Gonzaga e os porquês

Seguindo muitas indicações, fui ao cinema conferir Gonzaga: de Pai pra Filho.  O filme já foi tema do post da cachuda Belle Bento, mas com um viés mais cultural e regional, belíssimo texto, inclusive, arrasou! ;) O meu já vai por um viés mais interno, mais delicado, que trata sobre as relações humanas.

Confesso, chorei várias vezes durante o filme. Chorei pela delicadeza que Breno Silveira conseguiu colocar nas cenas, mas além da tela do cinema, pela delicadeza e miudeza do relacionamento humano. Relacionar-se é uma arte. Com o vizinho, com o taxista, com o chefe, avalie com familiares? Pai, mãe, irmão? Pelas fraquezas que todos nós temos, pelas palavras e ações que muitas vezes deixamos magoar, ferir, afastar. Chorei porque o homem em si faz isso com pessoas que mais ama e que mais os ama. Por quê?

Sim, existe um porquê ou vários. Gonzagão sempre amou o filho, mas por questões próprias – e no filme, ele explica bem – foi fraco para dar esse amor, estava além dele. Amor não é só sentimento, é atitude. Entendo que todos têm um por que, mas nem todos têm a compreensão ou a abertura para tê-la. Entender o outro já é compreender, já é perdoar. Gonzaguinha queria compreender, queria perdoar, queria amar o pai, só faltava entender. E conseguiu, ouviu os porquês da boca do próprio pai. A humildade de Gonzaga em se abrir, em falar das fraquezas, em assumi-las, de se tornar vulnerável, por amor, é louvável. Aplaudo. O filme deixou a lição que é duro não ser compreendido, mas compreender os outros é algo maravilhoso.

Lembrei ainda do filme “Divinos Segredos”, com Sandra Bullock, que também trata da relação complicada da personagem de Bullock com a mãe, e o filme mostra a história, os “porquês”. A compreensão passa pelo entendimento, mas é preciso expor, se abrir, falar, olhar nos olhos, se não, fica difícil. Parece simples, mas para muitos é uma verdadeira impossibilidade. Quem fere, fere a si próprio. Quem magoa, magoa a si próprio. Não precisa mais penalizar, por mais que soframos. A dor nos ajuda a evoluir, quando a sentimos conscientemente.

Tenho cá pra mim que a dificuldade em casar o sentimento “amor” com atitudes que reflitam esse “amor” vem da dificuldade do amor próprio. Aprendi isso com minha avó Bibia, que dizia muito “aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros”. Então meu povo, vamos simbora fazer análise, se cuidar, curar os traumas, lidar com as frustrações, para assim podermos deixar o amor fluir dentro de nós e finalmente poder compartilhá-lo com quem amamos, leve, solto, sem traumas ou questões a serem resolvidas. Sempre que existir um “porquê” mal resolvido, ele irá passar adiante frustrações, medos e até uma certa incapacidade de dar o amor que o que amamos merece.

Pra finalizar, deixo aqui a música que mais emociono com Gonzaguinha e que traduz um pouco disso que acabei de devanear... rs

Sangrando

Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda
Que palavras por palavras eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto, vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando
Quando eu abrir a minha garganta, essa força tanta
Tudo que você ouvir, esteja certa que eu estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos e o tremor das minhas mãos
E o meu corpo tão suado, transbordando toda raça e emoção
E se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante que o teu canto é minha força pra cantar
Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda
Que é apenas o meu jeito viver
O que é amar...

Comentários

André Gurjão disse…
Sem muitos rodeios, sabe o que eu acho de Gonzaga?! É muito um filme de homem, sabe?! Existem ali alguns diálogos que dá para sentir bem o que são as coisas entre pais e filhos, "coisa de macho", de nordestino, inclusive as competições. Daí meu sentimento de estranhamento quando vem uma cachuda falar de choro e Gonzaga. Para mim, é um filme honestíssimo. Carece de chororô não, e nem pede. Mas, se vier, até que é bom.

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