São Luis do Sincretismo
Em uma ida rápida a São Luis do Maranhão, decidi esticar
um pouco minha estadia na cidade para conhecer um pouco de sua história,
cultura e povo, ou seja, “turistar”. Uma das coisas que mais amo fazer, que me renova
a alma e me mantém a lembrança de que o mundo é muito mais do que o nosso
próprio. Uma das coisas que me chamou mais atenção é no preconceito que
herdamos dos nossos queridos (#sóquenão) coloniais portugueses: o preconceito e
a rejeição à cultura e à religião africana.
Visitei o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, o
Museu de Arte Sacra, o Centro de Cultura Popular Domingos Filho, o Museu de
Artes Visuais e o Cafuá das Mercês (Museu do Negro). Além claro do Palácio dos
Leões e a Igreja da Sé, belíssima. Assim como belíssimos os móveis dos séculos
passados, as roupas e utensílios utilizados pela sociedade e pela igreja
católica. No museu dos negros, uma coisa que destoava muito do que falei há
pouco: a simplicidade.
O racismo, este conseguimos “quase” eliminar (antes que
escute gritos, estou comparando principalmente com a época da escravidão), mas
e o preconceito religioso e cultural? Eu mesma não aprendi absolutamente nada
na escola sobre Candomblé, Umbanda, Orixás, Terreiros e variações. Vocês aprenderam?
Já sobre cristianismo e outras religiões monoteístas... Como se forma nossa opinião
em relação às religiões africanas? Pelo que nossa família e sociedade nos
apresentam, e, até hoje, ambas as instituições ainda utilizam pejorativamente
termos como “macumba” para se referir às religiões africanas. No mínimo, o
senso comum tem “medo” e, portanto, a mínima intenção de conhecer mais sobre o
assunto.
Eu só comecei a deixar de ter medo, confesso mesmo,
quando fui trabalhar como assessora de imprensa do Museu da Abolição, em
Recife, quando finalmente conheci, entendi, estudei e me admirei com toda a
história dos escravos. E, claro, quando me permiti mergulhar na cultura afrobrasileira,
em plena efervescência no meu estado natal, Pernambuco. Hoje toco alfaia, danço
maracatu, já joguei capoeira já alguns anos, me emociono com o batuque do
candomblé e tenho um respeito gigante a toda a cultura e povo desse continente
chamado África e que tanto faz parte da nossa própria história, brasileiros.
Imagine aí, os negros vieram acorrentados, arrancados de
sua terra e não podiam sequer manter seus ritos religiosos, de acordo com o que
sempre acreditaram e viveram, porque corriam o risco de serem chicoteados e até
mortos. Eis aí que nasce o sincretismo religioso e, junto com ele, a luta para
manter vivas, tradição e história, de um povo.
Ao conversar sobre o tema com o guia que me acompanhou no
Museu do Negro, ele confirmou o que eu já suspeitava, alguns católicos até
disfarçam e seguem com a visita ao museu, e muitos evangélicos não conseguem
nem olhar as peças e se recusam a conhecer a história das religiões negras. Uma
pena. Porque o desrespeito sim, faz parte do passado, lá pelos séculos XIV, XV,
mas, acho mesmo inadmissível estarmos em pleno século XXI e as religiões – aí falo
todas – esquecerem ainda o principal: o respeito pelas diferenças e o fazer o
bem a quem está do seu lado, seguindo principalmente o coração e não escritos
que, muitas vezes nos tiram da realidade e nos amedrontam.
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