Sem medo do ridículo

“eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo”,
Luis Fernando Veríssimo

Pensava dia desses sobre isso, do quanto faz diferença não ter medo de parecer ridícula. Do quanto me fez uma adulta, uma mulher mais feliz, genuinamente. Do quanto me fez ser “eu” sem medo, do quanto me fez pensar e falar as besteiras que me passam à mente, sem medo de rirem de mim (eu mesma morro de rir de mim, sério). Mas não foi sempre assim, lembro que até os 8 anos, mais ou menos, eu tinha medo de parecer ridícula, não participava das aulas direito porque tinha vergonha de perguntar e não tinha amigos, pois tinha medo até de falar. Mas cheguei a ser oradora da turma de alfabetização, morrendo de vergonha, mas fui. Acho que essa vocação de ser feliz tava ali dentro, contida, mas tava.

A partir dos 9 me bateu algo. Coloquei na cabeça que ia falar mais e que ia “aparecer mais”. Resolvi dançar no festival de folclore do colégio e fui logo ser a princesa do Maracatu, ali, em cima do palco com um vestido rodado bem rosa e a plateia cheia. Não dormi na noite anterior, fiquei tensa, lembro como se fosse hoje. No final, foi um sucesso, fui elogiada e fiquei vendo o vídeo repetidas vezes admirada comigo mesma, como era legal dançar, aparecer, estar ali pro mundo me ver. E não era pelos outros, era por mim mesma. Assim foi toda minha formação de ser humana, no sentido real da palavra. Humanos erram, humanos falam besteira, humanos parecem ridículos, você há de concordar.

Acho que quem é mais livre é mais feliz. Em tempos de redes sociais, onde todo mundo quer parecer feliz, com a vida perfeita e glamourizada, tem muita gente esquecendo de ser livre nesse sentido mais pleno. Porque parecer feliz é uma coisa, ser feliz é outra. Todo mundo tira foto daquele jantar especial, mas ninguém tira foto do arroz com ovo. O que vão pensar, né? Aliás, aprendi a não estar nem aí sobre o que vão pensar. Aprendi isso com minha vózinha, frase de Dona Bibia: “é assim. Quem gostar ai, quem não gostar ui”. Ela foi meu espelho em vários aspectos, esse foi um deles. E ela é que estava certa. Foi para o outro plano feliz, cheia de amor, por si e pelos milhares ao redor. Afinal, por que temos que conter nossa felicidade e nossa vontade? Em que a opinião dos outros nos afeta?

Ver alguém dançando sem medo de parecer ridículo, simplesmente porque deu vontade, é a mais pura representação da felicidade e liberdade. Quantas vezes deixamos de agir naturalmente, conforme nossos desejos e vontades, simplesmente pelo medo do julgamento alheio? Me permito ser livre nesse sentido. Conto piadas sem graça, sem medo de ninguém rir e ainda achar ridículo. Canto em público, mesmo sem ter uma voz como a da Mariah Carey (óbvio que tô tirando onda), mas e daí? Sou tão feliz cantando, canto por mim e não pelos outros. Toco violão por mim e não pelos outros. Conto piada mais por mim do que pelos outros. Brinco de ser humorista e imitar o povo, brinco. Essa é a essência. Criança que tem medo de brincar e ser ridícula não é feliz. 

E na boa, a vida é cheia de altos e baixos, de subidas e quedas mesmo e, sempre, teremos duas opções ao levar uma queda (usando a metáfora de ser uma no meio da rua): uma é morrer de vergonha e cavar um buraco ali mesmo pra enfiar a cabeça e nunca mais querer sair; outra, que considero mais saudável, é morrer de rir de si mesmo e levantar pra cair de novo em seguida, porque a vida é assim. E se tiver gente para achar ruim, rir de você ou tiver vergonhar por você, vira assim e fala “quem gostar, ai, quem não gostar, ui”. Lição bem aprendida vovó Bibia. ;)

De brinde, taí o vídeo de um desses momentos, eu própria sem medo de ser ridícula imitando Luiza Marilac (se não sabe quem é, clica aqui pra entender). E de boa? Meus chefes viram, paqueras viram (e nem por isso desistiram de continuar a paquera), amigos e inimigos viram e tô nem aí se alguém achou demais ou de menos, sei que foi um momento feliz. :D


Comentários

Belle Bento disse…
Excelente texto! Gosto dessas memórias de infância, curto demais essa mudança, de sair de si, de se abrir pro novo e encarar o medo de não sei o quê. Amei, amei, amei. Ainda bem que já casei contigo Rafa, se não eu te pediria em casamento de novo! hahaha Um beijo!

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