Dança dos deuses



Me amarrava em Antropologia na época da faculdade. Não sei se foi o professor – unia inteligência a um par de irresistíveis olhos claros – ou se pelo assunto mesmo, que me fascinava a cada encontro. Era uma aluna dedicada. E nessa brincadeira, tive a oportunidade de me aprofundar em um assunto que sempre me atraiu: as religiões afro, mais especificamente umbanda e candomblé.

Sem tradição de crença na família, a curiosidade, que me levou aos templos católicos e neo-pentecostais, também me pegou pelo braço e me apresentou aos caboclos e orixás dos terreiros e barracões. Tudo em nome da pesquisa. Infelizmente – ou felizmente - para finalizar o curso, enveredei pelo teatro e deixei meus orixás de lado.

E quase dois anos depois de formada, longe do terreiro, estou eu de férias em São Paulo e me surge a chance de conhecer o trabalho de uma das mães de santo mais respeitadas da cidade: Mãe Du. Não perdi a oportunidade lá fui eu mais uma vez me encantar com a linguagem da Mãe Jurema, do caboclo Marinheiro, e com a performance de Iemanjá e Ogum. A beleza foi maior do que eu poderia imaginar. A energia dos orixás, a dança das mulheres que bem pareciam baianas e a força dos tabaqueiros me fizeram flutuar.

Religião sempre foi um assunto intrigante pra mim, que sou "em geral" incrédula. Mas em alguns terreiros, como este da Mãe Du, meu questionamento vai todo embora. Pra onde? Sinceramente não sei. Fico extasiada, canto em pensamento, louvo em silêncio.

Foi um instante tão bonito. E surreal.

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