O Cariri é bem aqui

Finalmente tive a oportunidade de conhecer o Cariri, Juazeiro, Crato e Nova Olinda, mais precisamente. Me senti em casa. Soube até, durante a viagem, que o Cariri era território pernambucano até meados do século XIX, não sei se justifica, mas a cultura, o povo, os costumes, lembram demais.

Pouco aproveitei da Mostra Sesc Cariri, mas algumas coisas valeram demais os mais de 1.000 km percorridos pelas estradas da BR 116. A Fundação Casa Grande foi uma delas. Fiquei fascinada com o projeto, com as crianças, com os adultos que tornaram e tornam até hoje o sonho real, ou ao menos, o tornam parte de gerações. Sim, porque um sonho pra se tornar real tem que antes ter sido um sonho mesmo, não perder essa capacidade é essencial. Ao fazer isso por meio da arte, da literatura, da música, da comunicação, de brincadeiras, da história desse povo, não tenho nem palavra pra dizer o quão definidor é. Helinho, Aécio, Emanuelle, joão (o gúri que ganhou de mim no ping-pong), ainda guardo na memória o rosto de cada, as palavras de cada um e, principalmente, a esperança de cada um. Helinho e Aécio tocam na banda A Banda, formada por mais três amigos também crias da Fundação.

Bom de ouvir, bom de sentir, deixo vocês com esse vídeo de uma apresentação dos meninos no teatro Violeta Arraes:



Outro momento que preciso destacar foi a ida uma das terreiradas da programação. Terra batida, casas simples, pessoas idem. Cheiro de cultura popular truando nos arredores. Conversas fáceis. Entrei logo na casa principal e já fiz diversos amigos, me senti em casa mesmo. Já ajudava a distribuir o mungunzá salgado, diferente da minha terra, mas que tem o milho em comum. Desde a guria que ia dançar logo mais aos meninos que cuidavam das gravações, dos batuqueiros, cantores e trovadores, senhores que ali estavam para assistir ou vendendo churrasquinho e cervejinha gelada (depois da quarta nem era tanto, mas quem estava ligando?). Todos felizes de nos receber ali. Os reisados, as cabaças, as alfaias perdidas no chão, as fantasias. Fui tomada por um sentimento de pertencimento, de ser, de estar, saudade de Pernambuco, do Cocô de Bete, do terreiro de Mestre Salustiano na noite de Natal encenando o Cavalo Marinho até o dia nascer feliz. Ali é minha terra também, ali sou eu também, e meus olhos marejaram como marejam agora também.

Aqui, vai uma amostra do que é o Cavalo Marinho, diretamente da casa de Mestre Salustiano, sempre lotado de gente que gosta de cultura popular, sempre nos dias 25 de dezembro até o sol raiar. Todos dançam e cantam juntos. E já não vejo a hora de estar lá no meio novamente este ano.



Por essas e outras, senti que o Cariri é bem aqui. Assim como Pernambuco. Aqui. Dentro de mim.

Comentários

Anônimo disse…
Cariri não conheço ainda, mas se for como pernambuco realmente da essa idéia de pertencimento, pior foi eu voltar a minha cidade depois de conhecer recife e sentir-me estranho na minha propria casa. adoro, maracatu, côco, ciranda... porque sei que é feito com coração. e por falar em pernambuco... bateu uma saudaaaaade....
Belle Bento disse…
acabas de conhecer o que temos de melhor. ainda adolescente conheci o Cariri. de lá pra cá, quando fico magoada com a metrópole, me lembro dessas andanças. me conforta e me deixa de bem com o Ceará.

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