O olhar do gato

Dia desses vi o dia amanhecer pela janela do meu apartamento. Com os braços no parapeito, observei um novo clima, uma nova paisagem no bairro, no estacionamento do supermercado, na rua sempre movimentada ao longo do dia, no silêncio. Talvez contemplando mesmo, talvez apenas procurando algumas respostas.
E foi justo nesse silêncio, nesse clima ameno permeado com os poucos e saudáveis raios de sol das cinco da manhã, que vi um gatinho passando pelo telhado da casa vizinha, bem embaixo da janela. Era um gato dourado, com olhos verdes ou azuis, imagino. Não o chamei nem me mexi, mas, mesmo assim, ele olhou pra cima, parou e me encarou antes de continuar sua caminhada. Eu encarei de volta.
(Preciso abrir esse parêntese aqui para dizer que tenho um pouco de medo de gatos, acho que são traiçoeiros e que sempre serão capazes, a qualquer momento, de fazer um “crhiii” e vir com a pata cheia de unha afiada pra cima de mim).
Voltando ao relato da madrugada-manhã, a troca de olhares mexeu comigo. O gatinho falou com os olhos e me disse que, mesmo no silêncio, há movimentação. Era um olhar amigo, confortante, cheio de vida e de sensibilidade. Mal sabe ele que me deu um sorriso no rosto.
Naquele instante, perdi um pouco do medo dos gatos e aprendi um pouco mais sobre o que a nossa vã filosofia teima em desconhecer.
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