Despedida de mãe
O que seria de nós se não fossem os lugares onde resolvemos trilhar e, sobretudo, as pessoas que nos aparecem pelo caminho? Eu, quem sabe, seria uma tangerina. Ou um pé de mandacaru. Enfim, não seria pessoa. Digo isso porque vivo uma época de tantas mudanças (cidade, amores, empregos e amizades) que tudo me parece intenso como nunca antes. E eu, que sempre sonhei em ter várias vidas (achava que uma não me bastava), começo a me perceber plena com uma só.
Dia desses estava saindo de casa, indo pro sertão conhecer a tão sonhada liberdade (e foi uma delícia encontrá-la!). Agora minha terra natal, que pra ser sincera nunca me tratou como uma mãe de verdade, me chama de volta. É cedo ainda, avalio. Mas o meu achismo de nada serve. Há horas em que não ter duas vidas nos torna reféns do amor. Faço as malas e pego a estrada. Essa é a primeira vez que uma volta me parece mais dolorida que a partida.
E na hora da despedida, vai doer. Sim, Petrolina, a cidade mãe que me adotou nos últimos dois meses e sete dias, me encantou com clima, lugares e gente. Da travessia do São Francisco ao samba de velho da Ilha Massangano. Da folia de São Gonçalo à mestria do Seu Francisco, o escultor de carrancas. A cidade inteira foi minha. Me ofereceu um afago que nunca encontrei em lugar algum, nem mesmo no interior da vó onde ia passar as férias há alguns anos.
Petrolina foi uma mãe. E é por isso mesmo que a deixo com vontade de não deixar. E com a promessa de, quem sabe em muito breve, voltar.
Comentários