Descobrindo Martha Medeiros

Aventurar-se em livrarias parece ser um esporte bastante comum, o que muito me agrada. Precisamos de aventureiros literários.
Na minha mais recente aventura à uma livraria, conheci a escritora gaúcha Martha Medeiros. "Poesia Reunida" chama-se o livro. Peguei, capa vermelha, bonita. Comentário do ótimo Caio Fernando Abreu, abri então para ver "qual era" e me envolvi com sua poesia. Comprei e dei de presente.
Não achei na internet "A" poesia que me fez comprar o livro, mas segue uma igualmente envolvente:
Mais ou menos
sou uma mulher mais ou menos
abandonada
um pouco me dou o direito
um pouco aconteceu assim
às vezes cansa ser independente
hoje me sustente não me deixe me alimente
quero alguém para pentear meus cabelos
sou uma mulher mais ou menos maltratada
um pouco por descuido
um pouco por querer
gosto da impressão esfomeada
às vezes cansa ser milionária
quero sair das páginas dos jornais
hoje me adote me faça um carinho deboche
me ponha no colo e abotoe minha blusa
me faça dormir e sonhar com o mocinho
sou uma mulher mais ou menos alucinada
um pouco foi o acaso
um pouco é exagero
hoje me expulse se irrite me bata
diga abracadabra e me faça sumir
às vezes cansa ser louca demais
mas gosto do medo que sentem
de se envolver com uma mulher assim
hoje quero alguém mais ou menos
apaixonado por mim
O que a moça pensa:
"Escrever, pra mim, é um ato de exorcismo, e creio que é assim para muitos. É quando liberamos nossos demônios. Abandonamos as versões oficiais, civilizadas e contemporizadoras, para, amparados pela liberdade e pela inocência que a ficção nos confere, deixar a autocensura de lado e acertar as contas com nossas loucuras e nossos desejos inconfessos. E então, um belo dia, tudo isso sobe ao palco, o exorcismo se dá de fato, nossos adoráveis demônios ganham voz, rosto, gestos, movimento. É assustador e fascinante a um só tempo".
"Ninguém consegue passar a vida sem se fundir com o outro, ninguém é tão monolítico e mais: todos os dias somos interpretados por quem nos cerca. Viver é uma constante terapia em grupo. Escrever não é diferente".
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