A cutucada da arte

A arte foi feita para cutucar, para provocar. Na música, na literatura, no cinema, o manejo com a dor em forma de arte é sensacional. É ver o sofrimento e a angústia transformando-se em poesia, em verso, em prosa, em rima. E é lindo. É lindo saber que tudo isso é vida e que podemos cantar e dançar as alegrias e as tristezas também.

Um dia desses vendo a exposição de um grande amigo me senti tocada por uma rosa sangrando, presa em uma moldura. A primeira vez que escutei Lirinha recitando os versos de João Cabral de Melo Neto, em 'Dos três mal amados', também senti um toque especial, que faz lembrar o quão especial e únicos são os momentos, todos, sem exceção.

Dos Três Mal Amados
João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte

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