Viajar consigo é preciso


"... Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".

("Mar sem fim"- Amyr Klink)


Viajar consigo como companhia é uma experiência única. Recentemente tive a oportunidade de passar 10 dias conhecendo algumas cidades do Uruguai e da Argentina, comigo mesma como principal companhia. Perdi as contas de quantas pessoas perguntaram "tu tens coragem mesmo?" ou simplesmente exclamaram "nossa, como tu és corajosa", e perdi as contas também de quantas vezes me perguntaram com espanto "tu vais sozinha??" e eu simplesmente respondi "não, não vou sozinha, vou comigo mesma". É diferente. É aprender o máximo - ou quase isso - de ter você mesmo como companhia. Você é mesmo suportável? Você é mesmo uma companhia agradável? Em uma viagem assim, você aprende tudo isso e ainda corre o risco - se não for mesmo uma pessoa chata - de se acostumar e querer mais.


Sou viciada em pessoas. Isso é um fato que aprendi ao longo dos meus quase 30 anos, adoro gente, adoro me comunicar, adoro conversar, adoro ouvir histórias - até mais do que contar, muitas vezes (talvez por isso a profiissão de jornalista me coube tão bem). Justamente em uma viagem 'sozinha', essas características se afloram como nunca. Você está ali, em um país diferente, em uma cidade diferente, com um costume diferente e com pessoas de diversas partes do mundo. É o momento perfeito para conhecer. Para descobrir. Para se descobrir.


Tudo é novo. A cada esquina, a cada ponto do mapa desbravado com afinco, a cada mordida em uma empanada, a cada gole de uma cerveja típica do local ou do vinho da casa, a cada pergunta a um nativo. O olhar passa a se encantar com parques, crianças, praias, lagoas, antiguidades escondidas através das feiras de rua, carros antigos com placas provavelmente datando de antes de você ter nascido. A imaginação vai longe. Muitas vezes o comentário sobre as coisas é feito consigo próprio, a respiração profunda olhando pro mar enquanto se sente o vento bater no rosto, não tem preço. O sorriso bobo no rosto simplesmente surge com a leveza necessária na vida de uma pessoa, feliz. Cansada de tanto bater perna, mas com a cara feliz de quem conheceu o novo e, principalmente, se conheceu mais, ainda mais.


Viajar consigo mesmo é preciso. Não é questão de coragem e sim de desapego e de apego ao mesmo tempo - por si próprio. Companhias sempre teremos, mas às vezes temos tantas que esquecemos do quão preciosa é a nossa própria companhia. Fazer novas amizades em outras línguas ou simplesmente dar boas risadas com pessoas interessantes que moram há milhares de quilômetros distante de você, é bom pra ir além, para enxergar além do seu cotidiano, da sua verdade momentânea, do seu espaço tão limitado por costumes e pessoas conhecidas. O olhar volta maduro, volta com ainda mais tolerância e compreensão.


Se eu puder dar um conselho a alguém, qualquer alguém - do mais próximo ao mais remoto, é esse. Arrume a mochila, tome 'coragem' e viaje consigo mesmo.

Comentários

Unknown disse…
Rafa, fico muito feliz de ter participado nem que seja um pouquinho nessa idéia! Espero que muitas outras viagens maravilhosas surjam na sua vida e espero tb poder compartilhar de algumas ctg!!!
Bjs mil, saudades

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