A crônica do tubo

Sempre tive curiosidade de como é entrar naqueles tubos de ressonância magnética pra fazer exames. Curiosidade estúpida talvez, mas sou assim, curiosa. Hoje tive a oportunidade de matar a curiosidade e não vou me entregar dizendo que foi horrível, foi uma experiência da imaginação, eu diria.
Cheguei às 10 horas da manhã e só fui fazer o exame por volta das 14 horas. Esperar plano de saúde autorizar, esperar a vez. Mas tudo bem, li dois capítulos do livro, me atualizei lendo o jornal, lanchei, tomei dois cafés expressos e um cappuccino, conversei com uma amiga de Recife, com minha irmã e com algumas pessoas que também esperavam na clínica. O negócio era aproveitar o tempo para não somente “esperar”.
Um dos meninos que esperava outro exame comentou que já havia feito a tal da RMN (já estou familiarizada com os termos) e quando perguntei como era, ele respondeu “parece que você está numa rave”. Rave? Beleza, vamos ver, talvez seja o contraste na veia que faça esse efeito.
Enfim, hora do exame, tira tudo, TUDO e põe a bata. Deita na maca, o doutor pergunta se faço esportes e eu toda me achando atleta, digo "pratico vôlei". Então ele dá as explicações:
- Não pode se mexer, fique com os braços para a cima, com as mãos separadas. Os pés vão ficar com os calcanhares separados e os dedos juntos, é incomodo, mas é necessário. Vamos colocar uns tampões nos ouvidos para minimizar os barulhos do exame. Você vai ficar com uma campanhia na mão caso precise parar, mas só aperte se realmente for necessário se não teremos que repetir tudo novamente.
Estou pronta, a enfermeira e o médico saem e eu começo a entrar no danado do tubo. Pensei logo em fechar os olhos para o tempo passar mais rápido. Pensei também em cantar “Faroeste Caboclo”, que dá cerca de 8 minutos, se cantasse duas vezes, daria quase os 20 minutos da primeira fase do exame. Quem disse que eu lembrava a letra? Isso funcionou no exame de habilitação, mas foi há mais de dez anos atrás, pula. Não saia do "Não tinha medo um tal João de santo Cristo, era o que todos diziam quando ele se perdeu..."
Começou então a “rave”, realmente parecia uma, então vamos embarcar! Com os olhos fechados, me imaginei em uma festa, com luzes coloridas, dançando e curtindo o som, que variava, até que me acostumei. Quando parou o barulho maior, chega tomei um susto, voltei ao real. Depois o barulho voltou, pensei “é outro DJ, vamos lá voltar pra rave”.
Depois o barulho deixou de parecer uma “rave” e ficou parecendo uma metralhadora, me imaginei então num filme de ação, dando metralhada pra todo lado. Nada cristão, eu sei, mas foi bom pra expurgar umas raivas e, afinal de contas, era ficção ora.
Começou a ficar mais silêncio, pensei então em meditar, mas como não conseguia, comecei a lembrar de lugares lindos que tinha ido. As Montanhas de las Siete Colores, em purnamarca, a cachoeira da serra de La Cumbrecita, a chapada do Vale do Catimbau. De repente o som ficou parecendo uma onda gigante e imaginei foi um tubarão, lembrei da última vez que estive na praia de Boa Viagem, tomando uma skol gelada e tomando caldinho de camarão com Carlinhos.
Chegou uma hora que o braço pra cima começou a incomodar e eu não conseguia mais me concentrar pra imaginar coisas e lugares. Comecei a achar que já passou do tempo e ninguém vinha me tirar de dentro do tubo. Até cheguei a pensar que o médico e a enfermeira estavam se agarrando na salinha, assim como nos seriados Grey’s Anatomy, Private Practice, E.R. Que saco! Parem de se agarrar e me tirem daqui!
Depois de um tempão nisso, chega outra enfermeira (ah de antes deveria mesmo estar se agarrando, hunf) e disse “agora é hora da segunda fase do exame, vou colocar o contraste na sua veia. Colocou e deixou a agulha dentro. Queria que eu dobrasse o braço com a agulha ainda lá! Oxe! Tá doida, minha filha? Claro que não falei isso, mas gentilmente perguntei “Por que tem que ficar com a agulha? tá incomodando”. E ela “Porque é procedimento só tirarmos no final”. Isso lá é resposta?? É o tipo de mulher que vai chegar pro filho e dizer “Você não pode sair”, “Por quê, mãe?”, “Porque não!”. Comigo não, violão! Bati o pé e ela tirou a agulha, ora mais.
Bem, foi mais rápido, ufa.
Conselho: quando entrarem num tubo desses, é infalível, fechem os olhos e soltem a imaginação. A respiração volta ao normal e você nem lembra que está preso num espaço limitado tendo seus ossos minimamente examinados. (fiquei foi imaginando uma ressonância para examinar a alma da gente, mas aí é outra história).
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