Pré-Marcações
Muitas
vezes quando a gente aprende, a gente muda. Aprendo diariamente. Não só coisas
práticas, tudo. Esse “tudo” inclui até coisas sobre mim mesma e sobre a visão das coisas. E nessas coisas
sobre mim mesma, como aprendo diariamente, mudo também diariamente, é consequência.
Então dificilmente alguém me ouvirá bater o pé e dizer “sou assim e ponto
final”, porque eu “sou assins” e me permito isso. E, tem mais, fico morta de
orgulhosa comigo mesma quando mudo e quando quebro meus próprios pré-conceitos e paradigmas.
Só não me permito mudar a essência, essa não abro mão, como bem traduz o pensamento de Dom Helder
Câmara, a quem muito aprecio, “Feliz de quem
entende que é
preciso mudar muito
pra ser
sempre o mesmo”.
Digo isso porque estamos tão acostumados a planejar, a
marcar, a se organizar, que esquecemos de viver o que não se planeja, o que não
se marca, o que não se organiza. Lembrei do meu pai mandando eu passar batom
pra ir comprar pão na padaria, porque “eu não sabia o que poderia acontecer”.
Então, encontrar o grande amor ou uma pequena paquera na padaria da esquina, é
algo que pode ser marcado? Atropelar um gato que passa desnorteado, é algo agendado?
Lidar com a morte de alguém querido, é algo planejável? Receber uma proposta de
emprego em outra cidade, é algo planejado?
Como muitos, eu também programava meus dias de lazer. Na
segunda, eu já queria “amarrar” o que faria na sexta, no sábado e que filme
veria no domingo. Com o tempo e, com o dedinho (lá ele) de um grande amigo,
aprendi a viver mais sem relógio e sem agenda nos meus momentos de lazer. E
aprendi assim a ser mais leve, a ser menos ansiosa, a ser mais feliz também,
uma vez que o inesperado nos traz uma sensação de surpresa e, junto com ela, de
bem estar e de “viver”, simplesmente. Coisa boa é ver uma lua cheia nascer sem
ter planejado! Coisa boa é receber uma visita de última hora e de outra cidade,
assim, de supetão, sem planejar! Coisa boa é não combinar nada e, de repente,
ter amigos queridos em casa dando boas risadas e tomando boas cervejas! Lembro
bem que as melhores coisas da vida têm sido as inesperadas, as que não se
agendam, as que se vivem, apenas.
Bem, criei então o termo “pré-marcação” para meus queridos
amigos que tentam ainda agendar comigo algo alguns dias antes do compromisso.
Está pré-marcado, ok? Sou prioridade. Mas se é na sexta e hoje é segunda, muita
coisa pode acontecer ainda, inclusive nada. Eu mesma não faço nenhuma questão
de ser dona desse tempo. Se nenhuma surpresa surgir, ótimo, o pré-marcado será
cumprido. Mas caso dê a doida e eu simplesmente tenha a vontade de colocar a
barraca na mala do carro e partir para ver a lua cheia em Canoa Quebrada? Vou
reprimir a vontade? Isso é momento, isso é viver e, me desculpem os
pragmáticos, é lindo e poético, e, pra mim, a vida é bem isso.
Da mesma forma como aprendi a compreender e, não só a não ter
mais raiva do meu grande amigo quando eu tentava marcar coisas - mesmo com um
dia de antecedência, como adquiri também a nova fórmula “deixo a vida me
levar”, aí vai um recado: amigos queridos, não tenham raiva, não achem coisas
demais, o amor é o mesmo sempre, é tudo bem simples: a vida é agora, e o que eu
sou agora, não sou daqui a 24 horas, a diferença é que aprendi a ser fiel a
isso. Claro, existem casos e casos,
podem continuar me convidando para ser madrinha de casamento, garanto que não
tem perigo de eu mudar de planos! :P
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