Vida Corrida
Há exatamente um ano inventei essa história de correr. Não o
correr contra o tempo, que esse aí já quero é desacelerar. Mas falo de
ultrapassar limites físicos. De me impor desafios. Comecei intercalando corrida
e caminhada, mas antes mesmo de um mês já estava correndo 30 minutos seguidos,
sem parar. Nunca na história desse Brasil isso havia acontecido. Aprendi a
reparar na minha passada, no meu ritmo, na minha respiração, em como meus pés
pisam no chão, em como meus joelhos se comportam, os braços, até que comecei a
vê-los como minha equipe. E, como equipe, tenho que cuidar, mandar pensamentos
positivos “vamos lá, falta só mais um pouco, a gente consegue!”, coisas do
tipo.
Achava muito difícil conseguir correr 5km, me inscrevi para
a primeira prova no primeiro mês ainda por pura empolgação, uma prova linda em
Florianópolis/SC. Adoeci dias antes, gripe e tosse terríveis adiaram minha
estreia, mas sei que no fundo eu sentia que não conseguiria correr os 5km. A
primeira prova acabou sendo então em janeiro, do circuito Adidas, na Beira-Mar,
não parei uma vez e completei os 5km em cerca de 35’. A tal da endorfina vicia
mesmo, não tem pra onde. Toma conta da mente, do corpo, da vida. E por causa
dela, mudei hábitos. Fumava vez ou outra por safadeza e cortei esse hábito
horrível de vez. Diminuí bastante a bebida alcoólica, deixando de ir para happy hours em dias que antecediam os
treinos e provas e sim, disse vários “nãos” a amigos queridos para dizer “sim”
ao treino nosso de cada dia. Melhorei bastante minha alimentação, prestando
mais atenção no que ingiro, nas vitaminas de frutas (que eu nem gostava de
comer), verduras, legumes. Na funcionalidade do grão integral, na leveza que
uma alimentação saudável nos proporciona. Ainda não cheguei o ideal que desejo,
mas mudanças não podem ser radicais né :P
Treino em média três vezes por semana, sempre pela manhã,
vez ou outra à noite. Às vezes consigo levantar cedinho para treinar no sábado.
Prefiro a manhã, sentir a energia do sol, encontrar o japinha que corre falando
com todo mundo, mesmo sem conhecer, aliás, com isso contagia! Encontrar a
breguice da senhora que se veste como se não estivesse nem aí pro mundo e achar
engraçada a liberdade disso, dar “bom dia” ao treinador e ouvi-lo dizer
brincando “é bom dhía, não bom DIa”. Enfim, o dia começa com outro gás.
Vieram as corridas seguintes, treinando já os 6km, 7km,
progredindo a cada mês, mas nas corridas oficiais procurava já melhorar meu
tempo nos 5km, que chegou a 29’, na corrida da Caixa, em julho de 2013.
Nessa
época meu joelho começou a reclamar, fui ao médico, fiz um exame lá que nem
lembro o nome, mas que constatou o que os treinos já mostravam: fôlego e
capacidade pulmonar de criança, mas ossos de quem está passando dos 30 e
precisa cuidar. Comecei então a fortalecê-los em casa, detesto academia, ainda
mais tendo me acostumado a correr com o vento do mar batendo no rosto. Bem, mas
nada que umas caneleiras e a prática diária de yoga – que também voltei
recentemente, não ajudem. Também tive um pequeno problema na canela, a tal da
canelite. Tenho a sorte de ter como amiga uma excelente fisioterapeuta, que me
atende nos momentos de aperreio e tira minhas diversas dúvidas.
Chegando dos primeiros 10km |
Faltava uma semana para a minha primeira prova oficial de
10km, dia 02 de novembro. Só havia chegado uma vez nessa distância em um treino
e amanheci no outro dia toda dolorida. Estava sentindo muito a canela, doía só
de pisar e deixei os treinos por uma semana, pra poder recuperar e correr a
danada da prova. Tinha uma semana pra melhorar. Era um desafio pessoal. Todos
diziam que eu fosse prudente, não corresse e, se corresse, caminhasse em alguns
pontos. Fui pela intuição (mais conhecida como teimosia). A prova foi à noite,
levei dois saquinhos de gel com carboidrato e bebi água em todos os pontos.
Estava bem, estava confiante e não queria provar velocidade, queria completar o
percurso tranquilamente e terminar me sentindo feliz, plena e leve. Lembrei de
um corredor que disse não pensar nos quilômetros que percorreu ou os que ainda
faltavam, mas se concentrava ali, no que estava fazendo naquela hora. Assim
fiz. Curti o momento, curti a música que estava tocando na hora, olhei as
estrelas no céu, reparei no Parque do Cocó, por onde passamos em parte do percurso.
Assim foi feito, completei em 1h11min, com um sorriso no rosto (vermelho).
Fecho 2013 com seis corridas no total e um ano de muito
aprendizado nesse esporte que me conquistou e que não quero mais largar. Levo os
tênis na minha mala aonde eu vou, ele completa o meu divã, é na corrida que penso
(ou não penso nada também), que canto, que sinto paz, alegria e satisfação. O
bucho nem diminuiu tanto, mas meu objetivo aqui não é ficar com o corpo de
verão (até porque não abro mão da minha cervejinha), é ter saúde, ter disposição
e ter uma relação de cuidado mesmo com meu corpo, ter consciência dele, da
respiração, das batidas do coração, do movimento das articulações. Enfim, a
corrida me faz uma pessoa melhor, seja no trabalho seja na vida pessoal.
Resultado da"brincadeirinha" de 2013 |
Comentários
Valeu pela determinação e consequente vitória, pelo aprendizado e consequente ensino, pelo texto e consequente admiração.
Correr também faz a gente conhecer pessoas e conhecer pessoas como você faz bem.
Que bom ler o seu texto, querida companheira do amarelo e preto da KM e do vermelho e branco do coração.
Bj.
Augusto Guedes