A conversa que chegou na cozinha
De sete anos pra cá tenho me mudado bastante, vou agora para a quinta
residência da era pós-casa dos pais. Entre várias opções e durante as buscas
venho percebendo algo interessante, apartamentos mais antigos com a cozinha
separada da sala quiçá com quarto de empregada, enquanto os mais novos possuem
cozinha acoplada à sala, a conhecida "cozinha americana".
Refleti sobre. Cozinhar até então era coisa de mãe, de avó e muitas
vezes apenas da "secretária do lar". Crianças não são (eram) criadas
para isso, pelo menos não na cultura brasileira, principalmente a nordestina.
No entanto, hoje é nítido o crescimento do interesse na cozinha por jovens, sem
filhos, por pessoas que mal têm tempo para si por conta do trabalho. Eu vivo
exatamente isso. A cozinha acabou virando um prazer.
Não sabia nem fazer pipoca de microondas, pois - não sei como -
queimava. Minha sabedoria culinária pairava uma boa panela de brigadeiro e um
bom ovo sem estourar a gema. Morando sozinha, aprendi a fazer as coisas que
minha mãe faz e que eu gosto de comer, com o mesmo gostinho que ela faz. Com o
tempo, fui criando gosto em tomar um vinho e tomar uma boa cerveja no meu
próprio lar, e enquanto isso, cozinhar uns petiscos ou pratos para acompanhar.
Ouvindo música, dançando e rindo entre uma cebola e outra, misturando ervas,
sabores, toques de temperos especiais.
Acabou se tornando agradável cozinhar para receber amigos ou
simplesmente estar sozinha com aquela companhia perfeita e um jazz ao fundo.
Inclusive quando a companhia perfeita sou eu mesma. Adoro. Cozinhar se tornou
um ritual, que precisa ser compartilhado e não escondido. Sou a favor de
cozinhas americanas por isso. Vou ter agora minha primeira cozinha assim, já
imagino os bons momentos que passarei lá. Se sei cozinhar feijão? Arroz? Bife?
Não mesmo, mas me saio bem com desafios como massas e frutos do mar, cozinhar
por prazer e jamais por obrigação.
A cozinha virou sala, virou democracia.
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