A riqueza (e a pobreza) de Manaus



Sempre tive vontade de conhecer o Norte do país, por ser distante geograficamente e mesmo distante de conhecimento, por ser uma região afastada do sudeste (coisa que o Nordeste sofre também, mas acredito que um pouco menos nos últimos tempos), pouco se fala e quando se fala é sobre a floresta amazônica e a zona franca de Manaus, que até então eu nem sabia que não existia mais, confesso. Manaus e Belém sempre estiveram em meus planos de viagem e tive a oportunidade de poder conhecer a capital manauara.

Impressões que tive. Aproveitei uma corrida lá como desculpa e, primeira coisa, senti em plenos pulmões o quanto é abafado e quente, nunca caminhei em uma prova nesses quase dois anos de corrida de rua, pois foi a primeira vez, caminhei três vezes, quase desisti. A temperatura chegou fácil aos 40 graus, dificilmente irei reclamar com tanta veemência do calor do Ceará ou de Pernambuco, só continuo reclamando dos 44 graus do Rio de Janeiro, que me fizeram desmaiar de insolação, mas isso é outro enredo. Hehehe

Estando de roupas leves, é tranquilo, vá por mim. Ah, e bastante água, sempre. Ou cerveja bem gelada (:P). Foram quase quatro dias por lá, então deu pra conhecer os principais pontos turísticos, fazer um city tour com aqueles ônibus abertos em cima – que só Recife não tem ainda – e nos aventurar no meio do Rio Negro e Rio Amazonas, passando pelo povoado que mora à margem do Rio, conhecer um parque de vitórias régias no meio do mato, depois de uma breve caminhada por caminhos de madeira, vendo ao lado jacarés e macacos conviverem perfeitamente. Na verdade o tempo todo deu a impressão deles serem os anfitriões e nós, seres humanos, apenas visitantes, mesmo. Vivendo em harmonia, senti o respeito entre as espécies. Sim, cheguei a pegar no bicho preguiça, um jacaré até fofo e uma jiboia meio desconfiada, mas ok, confiei na moça que já convivia com eles todos desde criança e fui com fé, mais amostramento do que coragem, certamente. Ah, o encontro dos rios Negro e Solimões é digno de nota também, impressionante ver as águas escura, quase preta e a clarinha sem se misturar, tudo porque possuem velocidades e temperaturas diferentes, é lindo, lindo.

Falando um pouco do turismo gastronômico, faço questão mesmo de fazer, de comer o que comem os locais, de sentir os sabores daquela cultura. Pois bem, desde pato no tucupi aos peixes que nunca havia ouvido falar na vida (pirarucu, tambaqui, poraquê, jaraqui, matrixã), estranhei o cajá ser chamado de taperebá e fiquei maravilhada com a farinha de mandioca feita pelos índios Uarini, bom bolinhas grossas e crocrantes, misturadas especialmente com os peixes. Uma das melhores refeições foi essa aí da foto, um peixe matrixã recheado com essa farinha em forma de farofa de banana, divino. Ah, o tacacá foi especial, gosto forte, com personalidade, aquele jambu deixando a língua meio dormente, gostei demais. Quero mais. Falar em Jambu, fomos também a uma cachaçaria muito boa lá, a Cachaçaria do Dedé, com inúmeros rótulos de cervejas de várias partes do mundo (fiquei por conta da italiana Birra Moretti, uma genuína lager fabricada há mais de 150 anos). Ah, o Jambu, voltando aqui a essa erva típica da região Norte, provei a cachaça de Jambu, bem, foi uma experiência interessante, eu diria. Ah, nesse dia aí comemos foi um caldinho de feijão – como boa pernambucana, claro – e uma lingüiça de alcatra com queijo provolone, vale a pena e dá pra duas pessoas tranquilamente.

Sobre o centro histórico, bem, o teatro Amazonas é um espetáculo. Muita coisa ao seu redor é bem conservado, como a praça central, o monumento a abertura dos portos, a Igreja de São Sebastião, o Palácio da Justiça, enfim. Fizemos a visita guiada e lá podemos ver os móveis antigos, conhecer um pouco da história, ver figurinos e camarins da época, vale demais a pena. Amo história, amo arte e não dispenso uma “viagem” no tempo como essa. Se tivesse tido mais tempo, teria visitado os outros centros culturais que estavam fechados no dia, mas o city tour com a guia deu para fazer também uma bela viagem no tempo.

O City tour proporcionou outra coisa também, ter uma visão geral da cidade e da pobreza que ainda tem por lá, em grande parte dos lugares por onde passei. Centro sujo, desorganizado, perto de um caos. A impressão que me deu é que na época da exploração da borracha, quando Manaus chegou a ser responsável por 61% do PIB nacional, toda essa riqueza foi exclusivamente para os exploradores da época, sem voltar como investimento no crescimento da cidade e de seus moradores. Até o governo Lula, por exemplo, a energia elétrica não chegava às casas (palafitas) na beira dos rios, só para ter uma ideia, foi dia desses. Ok, algo comum para a nossa colonização, mas que quase 400 anos após já era pra ter evoluído um pouco. No bairro de Ponta Negra, onde fiquei hospedada, aí sim nota-se a modernidade, a limpeza urbana, a beleza da cidade harmonizando com o meio ambiente. Ainda tomei foi banho de rio lá no aterro que o governo fez, lembra demais uma praia e não tem ondas para me afogar novamente, ponto para o rio. 





Comentários

Sandro Rego disse…
Belo post. Gosto muito de Belém, g sua culinária e o seu povo. Bjsss

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