Cidades do Coração

A nossa relação com a cidade é algo que precisa ser apreciado, de verdade, pois diz muito de quem somos e para onde vamos. Aprendi a me relacionar com cidades desde minha chegada à Fortaleza, aprendi inclusive a me tornar até mais recifense, com o olhar que tive de fora.
Tenho minhas cidades preferidas, as que guardo no coração mesmo e que quero sempre voltar. Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevideo, La Cumbrecita, são algumas. Sempre penso, lembro e me teletransporto, o que me faz sentir àquele mesmo momento e me faz dar um sorriso fácil.
Como diz o escritor uruguaio Eduardo Galeano, a explicação para ele viver em Montevideo é o fato de ser uma cidade "caminhável e respirável". Comecei a pensar em Fortaleza, que é uma cidade assim. Comecei a caminhar mais nas ruas, a respirar ainda mais fundo na beira da praia e na cobertura do meu prédio, com a visão praticamente para toda a cidade, incluindo a serra de Maranguape e com um pôr do sol belíssimo.
E assim foi, fui me apaixonando pela Terra da Luz. Camarão no Mucuripe, Praia do Futuro; ali com toda sua estrutura e acessibilidade aos amantes do mar; adorava fazer tudo andando quando morava em Meireles, minha primeira morada. Subia e descia a Desembargador Moreira ou a Virgílio Távora olhando tudo em volta, as lojas, as casas, os prédios, as calçadas. Cruzamentos da Desembargador com Dom Luis e com Santos Dumont, vez em quando lembrarei deles. Morei ainda em Luciano Cavalcante, bairro mais interiorano, mas que aprendi a gostar também, a conhecer a Cidade dos Funcionários, Água Fria e arredores. Também com seus encantos, opção ótima era ouvir um blues no Noite Afora (sempre confundo o nome, mas é aquele perto do Habibs hehe).
Lagoa Redonda é um capítulo à parte, ia quase todos os finais de semana nos primeiros anos, na casa da minha tia, curtindo a praia, a lagoa e o friozinho que a chuva trazia praquelas bandas. Sabiaguaba, idem. Carinho especial, jamais esquecerei um pôr do sol que vi em cima de uma duna com meu amigo Daniboy, na nossa frente o sol enorme, laranja, indo; atrás de nós, uma lua gorda e cheia, nascendo. Foi noite de lual com violão em Lagoa Redonda. E nem escreverei muito sobre Canoa Quebrada, só digo isso: um dos lugares mais incríveis que já conheci, as noites de Canoa Blues ficarão para história da boa música.
A mais recente morada (jamais a última), Joaquim Távora, também me permitiu andar muito com oscar (os carcanhá), voltava várias vezes do trabalho a pé, caminhando, observando, respirando. Uma delícia, adorava. No caminho às vezes parar na casa de um amigo, ou num bar pra tomar um chopp. Repertório, Alpendre, Boomerang, Toca do Plácido. Sim, tive a época do Chaguinha e do Assis, no Benfica, outro bairro que terei saudades das ruas, das praças e da cerveja gelada com preço justo.
O céu lindo, todas as horas do dia, o pôr do sol visível em vários cantos da cidade, os meus preferidos: minha laje, tempero do mangue (sabiaguaba)e espigão de iracema. Tenho fotos, físicas e mentais. Essa semana me despeço dessa cidade que tão bem me acolheu e que me fez conhecer pessoas lindas. Escrevo de uma varanda com vista para a Beira Mar, nada de tristeza nem choro, tô feliz, tô agradecida e isso porque sei que tenho mais uma cidade no coração, mais um canto pra voltar, mais um canto pra lembrar e me sentir feliz por isso.
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